Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O especialista em financiamento para a educação Nicholas Davies avalia que medidas de curto prazo não vão atender às reivindicações feitas nas manifestações que ocorrem em todo o país para melhorar o nível da educação e da saúde. Professor de política de educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), Davies defende medidas de longo prazo para esses setores. " É um equívoco imaginar que uma medida de impacto vá surtir efeito no curto prazo. Eu não me entusiasmo muito com medidas de curto prazo", disse.
O especialista destacou que, embora seja favorável a melhorias salariais, o aumento imediato dos salários dos profissionais de educação é um exemplo de medida de curto prazo que não resolveria os problemas mais urgentes. Isso porque precisa ser adotada com melhorias das condições de trabalho, o que não ocorre de uma hora para outra. "Os efeitos só vêm, no mínimo, a médio prazo", informou.
O professor disse que no setor de transportes é possível verificar medidas com medidas de impacto mais rápido, mas isso não ocorre com a educação. "No caso dos transportes, uma medida de curto prazo foi a redução das tarifas. Mas na educação acho complicado. Por exemplo, a construção de escolas e creches é uma medida lenta."
Nicholas Davies ressaltou que influencia o setor no Brasil o fato de a educação estar ligada aos três níveis de governo – federal, estadual e municipal. “A responsabilidade não é só de um governo. Sobretudo na educação básica, que cabe aos governos estaduais e municipais", acrescentou.
Para o especialista, uma medida de curto prazo possível de ser adotada é o aumento da participação do governo federal no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais em Educação (Fundeb), implantado em 2007 com vigência até 2020.
Ele alertou, no entanto, que é preciso ter um maior controle sobre a aplicação dos recursos do fundo. “Não adianta o governo federal aumentar a sua contribuição para o Fundeb se depois não há um controle de como é que as prefeituras estão usando o dinheiro do fundo. Infelizmente o que está acontecendo no Brasil é que muitas prefeituras estão ganhando muito dinheiro com o Fundeb, mas as matrículas estão diminuindo."
Segundo o Ministério da Educação, em 2007, o governo federal investiu R$ 2 bilhões no Fundeb. Em 2008, os recursos aumentaram para R$ 3,2 bilhões. Em 2009 atingiram R$ 5,1 bilhões e, a partir de 2010, passaram a ser no valor correspondente a 10% da contribuição total dos estados e municípios de todo o país.
O professor defendeu ainda que não adianta ter universidade boa se a educação básica não estiver no mesmo nível. Ele destacou a diferença salarial entre os professores. "Eu ganho oito vezes mais do que uma alfabetizadora. É uma anomalia típica do Brasil. Na França, na Inglaterra e na Finlândia, o professor universitário não ganha oito vezes mais do que a alfabetizadora. Não adianta isso. Tem que pensar no todo. A educação começa na alfabetização e vai até a pós-graduação", disse.
Para a diretora do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Professor Lauro de Oliveira Lima, em Rio das Pedras, zona oeste do Rio, Heloísa Moreira, as escolas devem desenvolver cada vez mais a relação com a comunidade a que atende. Ela contou que o Ciep desenvolve atividades como o Projeto Capoeira na Escola "A cada ano, nós trabalhamos uma vertente. Dentro do projeto político-pedagógico da escola que é Dos Filhos Deste Solo És Mãe Gentil. Ele abrange toda a diversidade cultural tão rica no Brasil", explicou.
Por causa do projeto, os alunos acabam ficando um período maior na escola, embora não tenham o sistema de ensino integral. "Eles passam praticamente quase todos os dias da semana, principalmente, nos sábados. Eles vão para lá para fazer a capoeira e ainda pesquisam sobre os aspectos que envolvem a história da capoeira. Isso enriquece e eles gostam de ficar lá", disse. A professora, que tem 40 anos de magistério, destacou ainda que o projeto permite a integração de professores de várias disciplinas.
Por causa do bom desempenho dos alunos e dos professores, o Ciep Professor Lauro de Oliveira Lima tem sido destaque no Índice de Desenvolvimento da Educação (IDE-Rio), adotado pela Secretaria Municipal de Educação para avaliar as escolas. Em 2012, a unidade foi a terceira mais bem classificada no ranking das escolas nos anos finais (6º ao 9º anos) e a primeira colocada entre as chamadas escolas do amanhã nos anos finais, que são unidades localizadas nas áreas mais vulneráveis da cidade, que têm como objetivo reduzir a evasão escolar e melhorar a aprendizagem do ensino fundamental.
A diretora diz que, nos 21 anos em que está à frente do Ciep, registrou no máximo seis casos pontuais de violência. Para a coordenadora-geral do Sindicato Estadual dos Profissionais em Educação do Rio de Janeiro, (Sepe), Marta Moraes, atualmente o professor exerce o papel de mediador entre a comunidade e o aluno. "A violência se dá muito pela falta de funcionários. Como vai ter uma escola funcionando, com turmas superlotadas, sem inspetores e sem porteiros suficientes? O professor fica exposto sozinho e muitas vezes sofrendo violência por parte dos alunos e ele não tem nenhum acompanhamento por parte do estado", contou.
A Secretaria de Educação informou que não há levantamento específico sobre casos de agressão na rede estadual, mas incentiva as unidades a se reunirem com os pais para tratar desses e de outros temas que possibilitem a segurança da comunidade escolar.
Edição: Juliana Andrade