Ariadne acaba de completar trinta e três anos, mas seu temperamento ainda é deliciosamente infantil. Giulio, seu marido, se empenha em realizar todos os seus desejos — inclusive aquilo que ele, por conta de um grave acidente, não pode mais proporcionar. Assim, da rotina de ambos, começam a fazer parte os encontros de quinta-feira, quando Ariadne se deita com outro homem, pago pelo próprio Giulio, respeitando poucas, mas invioláveis regras.
Não há segredos na vida desse casal, embora às vezes Giulio desconfie que algo esteja errado. E Ariadne tem mesmo muitos segredos, como o todomeu, um cantinho especial escondido no sótão, tal qual a diminuta caverna onde se refugiava na infância, quando vivia no campo. E é ali, no todomeu, que Ariadne faz confidências a Stefania, sua única e verdadeira amiga.
O jogo de Ariadne e Giulio é misterioso e sedutor demais para não representar perigo, especialmente porque ela, como qualquer criança, não compreende com clareza o limite entre a fantasia e a realidade.
Em O Todomeu, Camilleri põe em cena uma protagonista extraordinária: inquietante na sua pureza, assombrosa na luz que irradia. Nesse jogo irônico e refinado, o leitor é conduzido pelo labirinto de Eros até as profundezas do amor e da perdição, onde – como no mito de Ariadne – o Minotauro devora os desejos mais obscuros e inconfessáveis.