Planejando a redação: O esquema-padrão
Redação

Planejando a redação: O esquema-padrão


"Vivemos mais uma grave crise, repetitiva dentro do ciclo de graves crises que ocupa a energia desta nação. A frustração cresce e a desesperança não cede. Empresários empurrados à condição de liderança oficial se reúnem em eventos como este, para lamentar o estado de coisas. O que dizer sem resvalar para o pessimismo, a crítica pungente ou a auto-absolvição?
É da história do mundo que as elites nunca introduziram mudanças que favorecessem a sociedade como um todo. Estaríamos nos enganando se achássemos que estas lideranças empresariais aqui reunidas teriam a motivação para fazer a distribuição de poderes e rendas que uma nação equilibrada precisa ter. Aliás, é ingenuidade imaginar que a vontade de distribuir renda passe pelo empobrecimento da elite. É também ocioso pensar que nós, da tal elite, temos riqueza suficiente para distribuir. Faço sempre, para meu desânimo, a soma do faturamento das nossas mil maiores e melhores empresas, e chego a um número menor do que o faturamento de apenas duas empresas japonesas. Digamos, a Mitsubishi e mais um pouquinho. Sejamos francos. Em termos mundiais somos irrelevantes como potência econômica, mas ao mesmo tempo extremamente representativos como população. "

("Discurso de Semler aos Empresários", FOLHA DE S. PAULO, 11/09/91)


Quando queremos ir a algum lugar a que nunca fomos, costumamos, mesmo que só mentalmente, fazer um roteiro. Se formos de ônibus, procuramos saber qual linha tomar, em que ponto descer, etc. Se resolvermos ir de automóvel, não será diferente também.
Caso não tenhamos em mente o roteiro, corremos o risco de ficar rodando à toa e não chegar ao destino e, caso tenhamos a sorte de chegar, teremos perdido muito tempo nessa tarefa.
Com a elaboração de uma redação não é diferente: se não tivermos um plano ou um roteiro previamente preparados, corremos o risco de ficar dando voltas em torno do tema, não chegando a lugar nenhum. Por isso, antes de escrever sua redação é preciso planejá-la bem, procurando elaborar um esquema.


Tese e argumentação


Analisemos, rapidamente, o fragmento do "Discurso de Semler aos empresários":
O primeiro parágrafo apresenta a tese que será desenvolvida - "Vivemos mais uma grave crise"; em seguida, outras ideias são agregadas a essa ideia nuclear: uma explicação (a crise é cíclica); os empresários lamentam o estado de coisas; o que dizer?
Essa última colocação pode ser chamada de "gancho", ou seja, o autor do texto encerra o seu parágrafo inicial com uma interrogação; a resposta (ou respostas) a essa interrogação será(ão) o corpo da dissertação, o desenvolvimento.
No desenvolvimento, em que o jovem empresário lança algumas verdades não assumidas pelo conjunto de empresários, o primeiro período pode ser entendido como um "argumento de força" ao buscar respaldo na "história do mundo". A seguir, a argumentação sustenta-se em análises, dados e exemplos; habilmente, o autor joga com palavras categóricas que podam o ânimo de alguma interferência contrária (quem contesta afirmações introduzidas por: "estaríamos nos enganando..."; "é ingenuidade..."; "é ocioso..."; "para meu desânimo..." até chegar ao inapelável "sejamos francos"?).


O esquema-padrão


Inicialmente, é preciso não confundir esquema com rascunho.
É importante atentar para um fato: cada dissertação, dependendo do tema e da argumentação, pede um esquema. Uma dissertação subjetiva, por exemplo, permite ao produtor do texto utilizar certos recursos que seriam descabidos numa redação objetiva.
Esquema é um guia que estabelecemos para ser seguido, no qual colocamos em frases sucintas (ou mesmo em simples palavras) o roteiro a ser seguido para a elaboração do texto. No rascunho, vamos dando forma à redação, porque nele as ideias colocadas no esquema passam a ser redigidas, tomando a forma de frases até chegar a um texto coerente.
O primeiro passo para a elaboração do esquema é ter entendido o tema, pois de nada adiantará um ótimo esquema, se ele não estiver adequado ao tema proposto.
Por ser o esquema um roteiro a ser seguido, convém dividi-lo nas partes que compõem a redação. Se vamos escrever uma redação dissertativa, por exemplo, o esquema já deverá apresentar as três partes da dissertação: introdução, desenvolvimento e conclusão, que, no esquema, podem vir representadas pelas letras a, b e c, respectivamente.
Na letra a, você deverá colocar a tese que vai defender; na letra b, palavras que resumam os argumentos que você apresentará para sustentar a tese e, na letra c, uma palavra que represente a conclusão a ser dada.
Quando estamos fazendo o esquema do desenvolvimento (letra b), é comum surgirem inúmeras ideias. Registre-as todas, mesmo que mais tarde você não venha a utilizá-las. Essas ideias normalmente vêm sem ordem alguma; por isso, mais tarde, é preciso ordená-las, selecionando as melhores, e colocando-as em ordem de importância. A esse processo damos o nome de hierarquização das ideias.
Para não se perder tempo elaborando um outro esquema, a hierarquização das ideias pode ser feita através de números atribuídos às palavras que aparecem no esquema, segundo a ordem em que serão utilizadas na produção do texto.
Apresentamos, agora, um exemplo do esquema com as ideias já hierarquizadas:


Tema: A pena de morte: contra ou a favor?

a) contra

b) 

  1. direito à vida - religião;
  2. outros países - EUA;
  3. erro judiciário;
  4. classes baixas; 
  5. tradição.

c) ineficaz; solução: erradicação da pobreza.


Feito o esquema, é segui-lo passo a passo, transformando as palavras em frases, dando forma à redação:
Na introdução, você se declararia contrário à pena de morte porque não resolve o problema do crescente aumento da criminalidade no país.
No desenvolvimento, você utilizaria os argumentos de que todas as pessoas têm direito à vida, consagrado pelas religiões, de que em outros países em que ela existe, citando os Estados Unidos como exemplo, ela não fez baixar a criminalidade, de que sempre é possível haver um erro judicial, matando-se um inocente, de que, no caso brasileiro, ela seria aplicada somente às classes mais baixas, que não podem pagar bons advogados, e de que, finalmente, a tradição jurídica brasileira consagra o direito à vida e repudia a pena de morte.
Como conclusão, retomaria a tese insistindo na ineficácia desse tipo de pena, e indicando soluções outras para resolver o problema da criminalidade, como por exemplo a erradicação da miséria.


Fonte: Livro "Redação para o 2º grau", de Ernani & Nicola, da Editora Scipione.

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