Redação do post "Ousadia na dissertação" na íntegra. Comentários na próxima postagem
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Todos os gestos da incredulidade
Eu não compro Baton, não votaria no Obama, não gosto de futebol, e acredito que o uso da terceira pessoa na dissertação é só mais uma marca do racionalismo excessivo e da impassibilidade das relações interpessoais atuais. Seria loucura escrever diferente do recomendado, do previsível, do normal. Seria acusado, mas não seria covarde. De fato, o melhor a fazer é tentar entender por que muitos não o fariam, por que a imaginação e a criatividade entraram em falência e levaram junto um pouco da natureza humana.
Questão primordial é entender que na contemporaneidade esse comodismo, que sempre existiu, agravou-se devido a certa falência de utopias e ideologias do último século. Nem as ideias de Marx, ou a tentativa de Lênin trouxeram a igualdade, a ONU não atendeu o desejo de nenhuma Miss, o “americacan way of life” trouxe também a aspirina e o prozac. Essa conjuntura cria um certo pessimismo e corrobora para dificultar o vislumbramento de mudanças na sociedade, tornando o indivíduo acomodado e passivo. É mais fácil incluir-se na normalidade, sem taxar o “sistema”, a ser taxado como “louco” e decepcionar-se ao tentar.
Espantoso é perceber que essa taxação, e o receio dela, sempre foi a regra. Quando Darwin propôs a evolução, ou Freud, a interpretação dos sonhos, ambos receberam o mesmo título: loucos. Sem dúvida, quando a sociedade se depara com conjecturas e posturas que põem em xeque seus modos de agir e de penar é compreensível que ocorra certo medo e aversão. O equívoco dessa postura está, no entanto, em se ignorar que a inventividade e a crítica estão na base da evolução das sociedades, só a imaginação permite a criação e a inovação.
O problema maior não é as novidades se tornarem rarefeitas, e sim que ao fazer isso, abdicar do poder de enlouquecer-se contra a cosmovisão vigente, o indivíduo abdica de sua própria racionalidade. O homem é um ser social que transforma a natureza com seu trabalho (mental e braçal), o que exige inferência, senso crítico. Para isso, é necessário que se tente enxergar fatos por outras perspectivas, que exista inferência e crítica ao que apenas os olhos vêem. Sempre foram poucos os que conseguiram fazer isso, Rousseau, Kant, Nietsche, mas foram os desvarios deles que influenciaram diretamente a formação da sociedade ocidental atual.
Torna-se evidente, portanto, que o medo da quebra da normalidade pode até ser normal naqueles que estão tão afogados em suas culturas que se alienaram em realidades que desejam ser imutáveis. Contudo, é dever dos “loucos” os salvarem, emergindo de novo sua condição humana, sua capacidade de colocar o mundo a sua volta em crise, insatisfazer-se. A realidade contemporânea, entretanto, conta com problemas que tornam essa ferida mais difícil de cicatrizar, como o individualismo. O irônico é ver  aqueles que defendem essa ação coletiva para retorno da criatividade escreverem na 3a pessoa do singular: são as contradições de uma sociedade que mantem seu lado humano vendado, e só enxerga quando quer. Parafraseando Machado de Assis: “Abane a cabeça, leitor”.


Fonte: Guia do Estudante - Caderno de Redação



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