Resenha: Presságio - O Assassinato da Freira Nua, de Leonardo Barros
Redação

Resenha: Presságio - O Assassinato da Freira Nua, de Leonardo Barros



Oito psiquiatras. Desacreditada por todos. A jovem Alice já havia aprendido a esconder seu dom. Entretanto, chegou o dia em que um de seus presságios torna-se decisivo para a resolução de um crime hediondo. Para a polícia, Beato Judas é o culpado, mas a premonição de Alice mostra que o real assassino ainda está solto. Ela precisará correr contra o tempo para, além de descobrir quem é o verdadeiro culpado, provar a todos que não é louca.


O enredo tem início com a cena de um crime. Irmã Bianca, uma freira que lecionava Português, foi encontrada morta, vítima de violência sexual e estrangulamento. Todos estão chocados. Não entendem o porquê de alguém desejar que uma mulher calma e querida por todos tivesse um destino tão trágico como este. E nesse momento somos apresentados aos responsáveis pelo caso, Delegado Matias e Agente Felipe.


Paralelamente, vamos tendo acesso à rotina de Alice. Ela já está enfrentando seu oitavo terapeuta e, embora tenha tentado ser mais direta a respeito de seu dom para clarividência, é novamente desacreditada. Todos dizem que são alucinações. O fato mais inusitado é que a jovem tem seus presságios quando atinge um orgasmo, tendo visões tanto do passado quanto do futuro.

O dois cenários começam a se entrelaçar durante uma festa à fantasia na casa de um sujeito estranho chamado Roger, que ocorre alguns dias depois do assassinato da Irmã Bianca. Alice vai à festa graças à pressão de sua colega de quarto, Georgia. Durante a festa, ela reencontra Vívian, sua antiga amiga, agora inimiga. Fantasiada de freira, a inimiga exala sensualidade  e provoca inveja por onde passa. Tomada por uma mistura de raiva com a vontade de ser um pouco mais parecida com Vívian, Alice perde o controle e ingere as mais variadas drogas ilícitas. Isso abre espaço para que rapidamente envolva-se sexualmente com um homem misterioso. Durante o sexo, tem mais um de seus presságios...

[...] O clarão
Um corredor iluminado.
O número sessenta e nove estampado numa porta que se abriu para que ela visse a repetição de tudo o que acabara de vivenciar: o diabo e Vívian na cama, entre beijos, tabefes e risos de prazer. Só que, dessa vez, Alice não se via mais sob a pele de Vívian. Apenas observava tudo como uma espectadora invisível.
As mãos acariciando. Os beijos, as mordidas, a gota de sangue no canto da boca. Até que ele puxou do bolso da calça que restava sobre a cama um fio que rapidamente enroscou no pescoço de Vívian. A mão direita dele espalmada na testa da Freira Nua, e a mão esquerda tracionando o laço. Agora, Alice ouvia o mórbido estridor de resquícios de ar transpassando o glote de Vívian. Os olhos saltados em surpresa. Os músculos relaxando. 
Ouviu a voz baixinha que dizia:
- Está morta. A Freira Nua está morta! (Cap. 3, pg 34)

Quando volta à realidade, Alice descobre que Vívian - a Freira Nua - fora realmente assassinada.

Não demora muito para que a polícia prenda o principal suspeito, Beato Judas. Todos acreditam que pelo fato de as duas vítimas serem "freiras", o assassino seja a mesma pessoa que matou a Irmã Bianca, como uma espécie de serial killer

Mas as características dele não condizem com as do diabo da premonição de Alice. O beato é pequeno e fraco, já o homem que ela viu era enorme e muito forte. Obviamente desacreditada pela polícia ao tentar explicar o que viu, Alice não vê outra saída: investigar o crime sozinha. A partir daí, a personagem se envolve nos mais diversos perigos e situações extremamente estranhas para conseguir descobrir a identidade do real assassino da Freira Nua, ao mesmo tempo em que tenta provar sua própria lucidez.



Alguns leitores do livro de Leonardo Barros destacaram que a falta de descrição das características dos personagens, tanto físicas quanto psicológicas, é o ponto negativo da obra. Ledo engano. Não é novidade que autores de suspenses policiais omitem características a fim de aumentar o leque de possíveis suspeitos para o crime central. Isso acontece em 'Presságio'. E, apesar da falta de profundidade de descrições, as atitudes dos personagens se tornam cada vez mais intensas e convincentes ao longo da trama. E não poderíamos esperar outra coisa de um drama. Você não precisa de uma descrição detalhada de cada um dos personagens ou do lugar onde o enredo está se desenrolando. São justamente as atitudes e diálogos que constroem, aos poucos, um mapa da personalidade de cada um dos envolvidos.

O leitor é inevitavelmente preso à leitura, já que o enredo se desenvolve principalmente com base nas ações dos personagens, e cada ação é encaixada perfeitamente em outras ações, até a última linha do livro. Tudo foi bem planejado pelo autor.

Leonardo Barros também aproveita-se de seu currículo acadêmico para oferecer uma certa riqueza em detalhes no que diz respeito à Medicina - além de nos ensinar várias coisas sobre lesões e estrangulamentos, os 'viciados' de Presságio são bem convincentes. E ele faz isso sem exibicionismos ou distorções, acomodando os dados mais técnicos de forma sutil ao longo da narrativa.

Certamente, um livro que superou expectativas. Além disso, termina de uma forma surpreendente, abrindo uma pequena brecha para, quem sabe, uma continuação. 

O livro é para todos os momentos, já que é bem curto e o texto mais leve flui rapidamente. Por conter cenas em que o erotismo e o uso de drogas ilícitas estão presentes, recomento a obra para um público mais jovem/adulto. Diante da constante renovação da literatura brasileira, Presságio - O Assassinato da Freira Nua é um dos livros que não pode ser ignorado, principalmente se você já for fã de um bom thriller policial


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