Atualizado em 10/08 às 11h55.
O estudante faz uma leitura superficial dos fatos. Talvez seja esse o principal problema do texto. No parágrafo introdutório, no qual caberia a tese a ser defendida, está apenas a constatação de que a população brasileira está muito confusa diante das atitudes eticamente condenáveis perpetradas pelos governantes.
O desenvolvimento dessa ideia revela certo simplismo. É verdade que, mais uma vez, o dinheiro do povo está sendo desviado de seus objetivos e que os problemas crônicos do país- saúde, educação, desemprego e violência- continuam negligenciados. Ocorre, entretanto, que talvez não seja esse o foco da questão.
Estamos diante de uma situação complexa. O grupo que ora se encontra no poder simbolizava a esperança de renovação e, sobretudo, de compromisso com os anseios do povo. A frustração imensa que acomete as pessoas vem do sentimento de traição da confiança. Além disso, não se trata agora simplesmente de indivíduos que se aproveitam do poder para assaltar o erário e encher os próprios bolsos. Estamos diante da revelação de práticas absolutamente desrespeitosas à ética, como a compra de votos, que vem sendo chamada de "mensalão".
Se, por um lado, o conhecimento dos fatos nos faz desacreditar ainda mais da classe política, por outro- e isso talvez nos sirva de alento-, é ele que nos pode conduzir à construção de novos caminhos. Essa é a discussão contida na proposta de redação.
É importante que o redator assuma uma posição, seja qual for, e a defenda. O debate de ideias, bem como a proposição de hipóteses e ponderações, enriquece o texto dissertativo. A mera constatação dos fatos é insuficiente.
Ao dissertar, é preciso emitir opiniões e validá-las por meio de argumentos. É a capacidade de organizar um raciocínio que é valorizada na redação.
Convém deixar claro que uma opinião é um pensamento construído. Só temos opinião sobre aquilo que é objeto de nossa reflexão. É preciso que nós nos convençamos das ideias que pretendemos expor aos outros, O texto aqui comentado não se desenvolve porque o autor não se propõe posicionamentos nem reflexão. É preciso buscar os pontos problemáticos do tema, aqueles capazes de suscitar a polêmica. Ao problematizar o tema, as ideias surgem. Depois, o trabalho é selecioná-las e hierarquizá-las.
A linguagem, por sua vez, deve abandonar o tom informal e, com o máximo de precisão e correção gramatical, contribuir para a articulação das ideias.
Thaís Nicoleti Camargo - Especial para a Folha de S. Paulo
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