Em "Ele observou a cena", ocorre crase ou não?
Aplicando a regra: Ele observou o fato. Não se deve usar "ao"; logo, não ocorre a crase: Ele observou a cena.
Com pronome relativo "Qual"
Para saber se ocorre crase antes do pronome relativo "qual", substitua a palavra a que ele se refere por outra masculina. Se você usar "ao qual", então deve-se usar "à qual", com o acento da crase. Vejamos esta frase, por exemplo: "Esta é a escritora ... qual se referiu o jornalista". Como devemos preencher a lacuna? Com "à" ou "a"?
Vamos substituir a palavra "escritora" por "escritor". A frase correta seria: Este é o escritor ao qual se referiu o jornalista". Se devemos usar "ao qual" é porque, no feminino, ocorre a crase. Logo, a primeira frase deve ser: Esta é a escritora à qual se referiu o jornalista.
Esse mesmo raciocínio vale para a forma plural (quais).
Não se usa o acento grave no "A"
- Antes de palavras masculinas: Fui a pé até o cinema / Compramos a máquina a prazo / Pude ver muitas estrelas a olho nu.
- Antes de verbos: Estamos decididos a fazer essa viagem / A partir de amanhã, ninguém poderá usar esta sala.
- Entre palavra iguais: Eles se encontraram cara a cara / Trabalhou de sol a sol / Ganhou a corrida de ponta a ponta.
- Antes dos pronomes pessoais: Dirijo-me a ti / Essa conversa não interessa a ela.
- Antes dos pronomes de tratamento: Peço a Vossa Senhoria esse favor (Obs.: As únicas exceções são os pronomes "senhora" e "senhorita": Peça licença à senhora / Não sei o que ele respondeu à senhorita).
- Antes dos pronomes demonstrativos "esta(s)", "essa(s)": Dê o presente a esta menina.
- Antes de alguns pronomes indefinidos, como "nenhuma", "certa", "toda", "ninguém", "alguém", "cada": Ele não se dedica a nenhuma forma de arte.
- Antes de "Nossa Senhora" e de nomes de santas: Apelamos a Nossa Senhora / Fizemos várias promessas a Santa Bárbara.
- Quando ele for seguido de uma palavra no plural: Ele se refere a pessoas famosas / Eles se dedicam a várias atividades esportivas.
Para sua consulta, apresentamos a seguir uma relação de locuções e expressões usuais em que o "A" nunca é acentuado.
A álcool, a bordo, a cântaros, a caráter, a cavalo, a dedo, a esmo, a ferro e fogo, a fundo, a galope, a jato, a lápis, a nado, a olho nu, a par de, a pé, a pino, a ponto de, a postos, a prazo, a princípio, a quatro mãos, a sério, a serviço, a sono solto, a sós, a tiracolo, a vapor, a vela, a zero.
- Eles estavam a sós.
- Ele ficou a zero.
- Viajei a serviço pela empresa.
- Levei a sério o que ele disse.
- Estou a par de tudo.
- Era um avião a jato.
- Escreveu o bilhete a lápis.
- A música foi executada a quatro mãos.
- Examinou a questão a fundo.
- Os candidatos foram escolhidos a dedo.
- Vestiu-se a caráter para a festa.
- Chovia a cântaros.
- Havia três pessoas a bordo.
- Comprei um carro a álcool.
Sempre se usa o acento grave
- Na expressão de horas: Saímos às duas horas / Chegamos à meia-noite / O avião partirá à zero hora.
- Nas locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas femininas, tais como: à tarde, à noite, à direita, à esquerda, às vezes, às pressas, à frente de, à medida que, à proporção que, à maneira de etc.
Para sua consulta, apresentamos a seguir uma relação de locuções e expressões em que o acento indicativo da crase sempre deve ser usado. Em alguns acasos, não se trata efetivamente de crase, mas o acento é usado para dar mais clareza à frase.
À baila, à base de, à beça, à beira-mar, à caça, à cata de, à chave, à custa de, à direita, à deriva, à disposição, à espera de, à espreita, à esquerda, à exceção de, à faca, à flor da pele, à luz, à mão, à máquina, à margem, à medida que, à meia-noite, à mercê, à mesa, à milanesa, à mostra, à paisana, à primeira vista, à procura de, à risca, às cegas, às claras, às escondidas, às mil maravilhas, às moscas, à solta, às ordens, às pressas, à tarde, à testa, à tinta, à venda, à vista, à vontade, à zero hora.
- Ele ficou à vontade na minha casa.
- Escrevi o bilhete à tinta.
- Chegamos à tarde.
- Ele estava à testa da empresa.
- O cinema esta às moscas.
- Estou às ordens.
- Ele agiu às claras.
- Andou às cegas pelas ruas.
- Segui à risca suas instruções.
- O policial estava à paisana.
- O barco estava à mercê das ondas.
- Fiz o trabalho à mão.
- O barco estava à deriva.
- Eu me diverti à beça.
- Ele trouxe o assunto à baila.
Atenção com estes casos!
- Pode haver crase diante de palavra masculina quando uma palavra feminina estiver subentendida antes dela, como neste exemplo: A entrevista foi dada à Bandeirantes (Isto é, à rede Bandeirantes).
- É facultativo o uso do acento antes dos pronomes possessivos e antes de nomes próprios femininos: Desejo felicidades à (a) sua irmã / Desejo felicidades à (a) Renata.
- Não ocorre crase antes da palavra "casa" quando ela se refere ao próprio lar, ao lugar onde se mora: Voltamos tarde a casa. Veja que, nesse caso, podemos dizer "voltamos tarde para casa", sem artigo. Nos outros casos, ocorre a crase: Voltei à casa onde passei a infância. Observe que, nessa frase, podemos dizer "voltei para a casa onde passei a infância", com o uso do artigo.
- Não ocorre crase antes da palavra "terra" quando ela significa "terra firme", em oposição a "mar": Os marinheiros voltaram a terra. Observe que, usada nesse sentido, a palavra "terra" sempre se usa sem artigo: Os marinheiros estiveram em terra por duas horas / Viajamos por terra durante alguns dias. Nos outros casos, ocorre a crase: Voltei à terra natal / Regressei à terra de meus pais.
IR A OU IR À
Com relação ao verbo "ir" e outros verbos de movimento que pedem a preposição "a" (dirigir-se a, viajar a, transportar a, levar a etc.), podemos aplicar uma regra para saber se ocorre a crase ou não. Basta substituir o "a" pela preposição "para". Se o artigo for necessário, é sinal de que ocorreu a crase. Considere, por exemplo, a frase: "Fui ... Itália". Devemos usar "a" ou "à"? Para saber, vamos aplicar a regra e substituir o "a" por "para": "Fui para a Itália". Veja que é obrigatório o uso do artigo "a"; logo, há crase e o "a" deve ser acentuado: Fui à Itália.
Vejamos outro exemplo: "Fui a Campinas". Aplicando a regra, temos: "Fui para Campinas". O artigo é dispensável; logo, não há crase e o "a" não deve ser acentuado: Fui a Campinas.
Há outra dica que você pode aplicar nesses casos, usando o verbo "voltar". Se você disser "voltei de" é porque não ocorre crase. Se disser "voltei da" é porque ocorre crase. Veja esta frase: "Fui ... Curitiba". Devemos escrever "a" ou "à"? Usando o verbo "voltar", dizemos: "Voltei de Curitiba". Portanto, não ocorre crase (pois não há artigo). Logo, a frase correta é: Fui a Curitiba.
Outro exemplo: "Fui ... França". Devemos escrever "a" ou "à"? Usando o verbo "voltar", dizemos: "Voltei da França". Portanto, ocorre crase. Logo, a frase correta é: Fui à França.
Obs.: Se o nome do lugar vier modificado ou qualificado, ocorre crase porque o artigo estará presente: Fui à Curitiba de minha infância / Fui à Lisboa dos poetas. Observe que, nesses casos, podemos dizer: Fui para a Curitiba de minha infância / Fui para a Lisboa dos poetas.
Fonte: TUFANO, Douglas. Michaelis: Português Fácil - Tira-dúvidas de redação. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2010.