O MAGISTÉRIO E A PROSTITUIÇÃO
Redação

O MAGISTÉRIO E A PROSTITUIÇÃO



            Muitas vezes eu tenho dito ironicamente em sala de aula que a docência é igual à prostituição, sem que nós, professores, tenhamos (eu acho!) a necessidade de arriar a calça, a saia ou o bermudão.
Remota como o ato de emprestar o corpo em troca de algo, a docência existe desde priscas eras, quando os habitantes das cavernas tinham como obrigação de sobrevivência ensinar e educar a sua prole, seus discípulos, transmitindo as suas tradições. Ambas são profissões antiquíssimas, primeiras na história da humanidade. Eis a semelhança inicial.
Também percebemos que as duas fazem uma permuta com fins lucrativos, dispor-se por alguma coisa. A prostituição faz vender o corpo físico (embora use a mente para fingir em certas ocasiões!). Os professores vendem a mente (embora negociem também o corpo físico para fingir as informações não-verbais!). Todas as duas carreiras são desvalorizadas, salvo algumas exceções: putas(os) de luxo e docentes donos de escolas. Esta aí a segunda semelhança.
Na mesma linha de raciocínio, se o/a promouter do prazer quiser ganhar dinheiro tem que estar disponível 24 horas, com telefone exclusivo e quarto de hotel reservado, além de fazer as “entregas” em domicílio. Se o/a promouter do saber quiser ganhar dinheiro tem que dar aula de manhã, inventar cursos particulares à tarde e se “oferecer” nas portas dos pré-vestibulares pela noite. Qualquer semelhança é mera coincidência.
            Além disso, a pessoa que vende a si mesma não pode ou não deve ter nenhum tipo de sentimento para com o seu cliente. Já pensou uma puta apaixonada? Um michê amando uma freguesa? Ia ser um inferno pessoal. Não é diferente com os educadores. Tudo é passageiro, os alunos vêm e vão, apenas nós ficamos. Se tivermos algum carinho ou afeição iremos sofrer fatalmente. Mais uma semelhança.
            O sexo é uma fonte de renda que faz o sujeito se desgastar, desmoralizar-se por conta do preconceito, mas ele não larga o ofício, não pensa em mudar de vida, muitos não querem. O magistério idem. A sala de aula é traumatizante em alguns momentos, aterrador em outros, porém os mestres não a deixam, é um vício. Dar aula é como fazer sexo ou beber cachaça, depois que se começa não se quer mais parar.
            Há os que têm o dom para a coisa. Fazem com graça, leveza e são bastante disputados: na sacanagem e na educação. São os professores que dão shows, famosos, que arrebentam a boca do balão e todos os alunos os amam; são as putas prato-principal-da-casa, safadas de natureza, gueixas cuja fama arrasta curiosos do quinto dos infernos. Outra coincidência.
Quanto ao ambiente de trabalho, a(o) prostituta(o) pode angariar inimizades, ter desavenças e rivalidades com os colegas e ser explorada(o) pelo cafetão. A escola está eivada das mesmas picuinhas, ou seja, colegas falando mal um dos outros, escrachando as instituições de ensino, agindo de má fé, etc. Só que, nesse caso, os colegas são os outros professores e o cafetão é o diretor. Inflamada igualdade.
... Meus alunos sorriem, acham que estou zoando, brincando mais uma vez. Eles não sabem que falo de coração na mão, sentindo na alma os reflexos de ser educador. Sem querer comparar para fazer juízo de valor entre as duas vocações (até porque não sei dizer qual a mais interessante, a mais nobre, a que serve e a que não presta!), vou seguindo a minha sina: educando ou me prostituindo?
Gustavo Atallah Haun - Professor.



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