Começou a Primavera! E o mês de outubro na Igreja Católica sempre foi dedicado à Juventude. Isso e mais o que tenho visto e vivido, aliado à angústia de ficar sem escrever (só lendo e lendo muito!), me fez voltar ao teclado e proclamar este texto. Dia desses fui ao Shopping “garimpar” filmes clássicos no saldão da Americanas (estou à procura de ‘Os Miseráveis’). E tomei UM SUSTO com uma multidão de jovens que estavam por lá numa noite de sábado. O que Frei Betto já correlacionou em um dos seus livros (“... que o Shopping Center é a ‘Catedral’ do mundo moderno”), eu confirmei de modo estarrecedor: meninos e meninas, de 17, 16, 15, 14 e até 13 anos, SOZINHOS, maquead@s, cabelos fashion e roupas pós-modernas idolatravam o único deus que lhes foi dado a conhecer: O HEDONISMO. A grande maioria não fazia, literalmente, nada. Apenas demonstravam um imenso prazer de estar ali, com vitrines, marcas, vendo exibições e exibindo-se.
Eu eduquei minhas filhas e o meu filho com valores idênticos aos das comunidades dos Atos dos Apóstolos, de Canudos, das CEBs e dos primeiros Franciscanos que chegaram ao Convento dos Capuchinhos de Itabuna, em fins dos anos 80. Sei que a maioria dos jovens e muitos dos adultos, dirão que são valores ultrapassados, sem espaço no mundo pós-moderno, dos IPhones, IPads, Tablets e fast-foods multinacionais. Será mesmo que duas décadas de novas manifestações culturais podem apagar séculos e milênios de modos de vida que produziram felicidade para muito mais gente e por muito mais tempo??? Sei também que muit@s d@s minhas/meus antig@s companheir@s se perderam em outras idolatrias, como a políticos, partidos, facções ideológicas e a marcas de cerveja, cada vez mais hegemônicas, nos comerciais de TV e no tempo que toma de cada um/a delas/es. E por isso, produtos (como livros) e valores (como todas as primeiras religiões) que duraram séculos, foram e estão sendo devastados pelo mercado, que precisa urgentemente, contar com os hormônios e a gula consumista das gerações “Y” e “Z”, marcadas por uma dificuldade imensa de ler, analisar, debater e espiritualizar a sua existência.
Mesmo minhas filhas e o meu filho (que receberam de mim todo o ideário do Cristo, de Francisco de Assis, de Gandhi, de Antônio Conselheiro, de Chico Mendes e Marina Silva), percebo que são tragad@s paulatinamente pela sociedade de consumo. Eu mesmo, dia desses precisei trocar os óculos. Fiz orçamentos em 3 óticas, como me acostumei a fazer nas compras da Escola. Pesquisei nas que considero as 3 maiores, por ser pioneiras ou ter melhores preços e estrutura. Resultado: a que oferecia a melhor armação para o novo tratamento indicado para meus olhos, tinha a armação “nike”. E aí? Não compraria óculos por ter esta marca. Não, não pude rejeitar o melhor orçamento porque seria em armações desta marca multinacional. Até porque o segundo melhor orçamento, em armações de uma marca menos “vilã”, me custaria R$ 100 a mais. Parece então que não temos saída. O que então é possível fazer para viver num mundo globalizado (outra vez parafraseando Frei Betto, “globo-colonizado”) e altamente bombardeado por apelos consumistas e dominado pelas grandes marcas, sem perder o essencial de nossa identidade?
Talvez o caminho escolhido por alguns de meus melhores amigos, de não ter “facebook” seja uma alternativa de resistência. Alguns especialistas recomendam distância das drogas para não viciar-se nelas. Nas redes sociais, vê-se um desfile interminável de vaidades, que vai desde a lista de amig@s (???), passando por fotos e mais fotos de lugares supostamente irresistíveis, chegando até à troca de informações do que se julga ser objeto de cobiça ou admiração alheia. Vou usar os meus óculos com a marquinha da Nike com certa angústia, mas compensarei tal sentimento com o prazer de continuar usando sapatilhas e sandálias de couro cru, compradas em Euclides da Cunha. Mesmo sabendo que tenho “N’s” filmes nos canais por assinatura, vou teimar em desligar a TV por uma ou duas horas à noite e vou ler novos livros (todos os de Laurentino Gomes) e reler os clássicos e Poesia, como Neruda, Graciliano, Cora Coralina, Rachel de Queiróz, Thiago de Mello, Jorge Amado, Fernando Pessoa e José Saramago.
Minha filha de 19 anos decidiu partir para Salvador e tentar trabalhar e viver por lá. Tomou essa decisão em total desalinho com o que a ensinei e demonstrei a vida inteira: sem formação completa (apenas com o Ensino Médio) e sem uma base segura de apoio, não mude para longe de sua primeira família. Num mundo globalizado, que expliquei e exemplifiquei até aqui, ninguém quer dividir preocupações, nem responsabilidades (por menores que seja) com ninguém. Tod@s vivem em função de conquistar espaços e títulos, pagar as contas e alimentar o “facebook”. Tenho tentado, com meus exemplos e com todo o meu amor, direcioná-la para “portos seguros”, mas sinto que à distância e sem apoios consistentes na capital, ela tem trilhado caminhos diferentes dos que um bom pai gostaria e isso tem sido causa de muita insônia e sensação de que estou perdendo esta importante batalha para o “deus hedonista”. Quem tem filh@s e ama @s filh@s, sabe: não @s geramos e criamos para serem submetidos às mesmas explorações e pressões capitalistas pelas quais passamos. Sei que nenhum ser humano é uma ilha, mas gostaria de criar minha própria Ilha, com a capelinha e o pregador que existiu em Canudos, todos os meus familiares QUE AGEM COMO FAMÍLIA, amig@s e colegas das CEB’s, dos primeiros grupos de Crisma, do Grupo Temático Pedro Casaldáliga, do C.A. de Letras e gente das Aldeias Indígenas. E lá, todos os dias, no início da noite, teríamos celebrações, e logo em seguida, uma cantoria e arrastapé, com todos os cantores pernambucanos, paraibanos, alguns cearenses e tantos outros do norte e sul da Bahia.
* Marcos Bispo Santos é professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Rede Municipal de Itabuna; diretor do Colégio Estadual da Aldeia Indígena Caramuru Paraguaçu, Pau Brasil – BA. Colaborador da Revista Viração: www.revistaviracao.com.br/ Fones: 73) 8177-1734 / 8805-9893/ 9141-8713. [email protected]
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