Depois de 38 anos e 19 discos, os "anos maduros"
Clockwork Angels é definido pelos fãs do Rush como um dos álbuns mais maduros da banda. Com uma pegada de hardrock misturada a elementos orquestrais, Neil Peart continua, como sempre, na sua melhor forma. As suas músicas passeiam por cidades perdidas, piratas, anarquistas, um carnaval exótico e um observador que impõe precisão em cada aspecto da vida. Tudo isso acabou gerando uma turnê, que nada mais é do que um verdadeiro espetáculo, com participação no palco de uma orquestra.
Para a designer gráfica Gabriela Oliveira, "a atmosfera do álbum tem muita relação com viagens ao passado sob a ótica do viajante, que conta as suas desventuras e percepções". Nesse universo progressivo, o tempo através de sons de relógios está presente na composição de boa parte das músicas, além da relação do tempo com a nossa vida e nossas ações. A música The Garden, uma das preferidas de Gabriela, trata do tempo das relações e de como isso interfere no amor e respeito que aprendemos ao longo da vida.
Jornada metafórica
Rush tem uma experiência em compor com referências literárias, mais especificamente de poesia e ficção-cientifica. Ericki Haras, outro grande fã da banda, acredita que dar continuidade para as composições através dos livros mostra a riqueza e criatividade das letras do Rush. "Elas são tão densas e verdadeiras que não cabem apenas em uma plataforma, a música", afirma. E não poderia deixar de ser. A grande maioria dos álbuns do Rush é assim: conceituais e repletos de simbolismo em cada nota - um simbolismo que transcende à música.
A temática de Clockwork Angels é uma jornada por meio de uma atmosfera steampunk distópica que pode ser sentida não apenas nas letras geniais de Neil Peart, mas também na instrumentalização muitas vezes seca, ressonante como o bater de metais ou o girar de engrenagens, que ilustram esse mundo de metal governado pela ordem lógica de um relógio. Ao longo de todas as músicas, essa jornada fica explícita, traduzindo as batalhas e angústias que acontecem nesse mundo, em uma clara metáfora para o próprio mundo atual.
Rush sempre foi uma banda bastante crítica, especialmente no que concerne à relação do homem com a tecnologia - ora subjugando-a, ora sendo subjugado por ela. A novelização do álbum nada mais é, então, do que um passo natural. E o projeto de expandir as letras em livro, é claro, foi aprovado. "O conceito de Clockwork Angels é tão forte, tão bem desenvolvido, que a romantização em um livro apenas tem a acrescentar, tornar ainda mais visível a jornada a que o álbum se remete. É uma obra muito bem-vinda, não só para os fãs de Rush, mas para o público de ficção em geral", finaliza Ericki.
Um gênio da ficção científica